MIGUEL BRANCO

Portugal, 1963

PEDRO CERA

O trabalho de Miguel Branco (Castelo Branco) está intimamente ligado à pintura e à escultura. Embora à primeira vista, a sua obra pareça assumir uma forma clássica, as raízes da sua prática estão intimamente ligadas ao pós-modernismo, ou seja, aos princípios de apropriação e deslocamento. As suas pinturas e desenhos geralmente apresentam motivos de animais, retirados de antigos atlas e livros antigos de ciência. O animal é retirado de seu habitat natural e colocado num ambiente ou situação típica do homem. Fugindo de qualquer sentido de narrativa, a abordagem de Branco é baseada na descontextualização, ao invés de atribuir ao animal atributos humanos. O animal distingue-se então pelo seu comportamento apático e pela sua falta de expressão, resultado direto do seu deslocamento. Representado como o Outro, as novas obras de Branco tornaram-se numa interpretação irónica sobre o abismo cada vez maior entre a natureza e o ser humano, que, ao longo dos últimos três séculos, se foi gradualmente afastando em busca da sua própria superioridade.